As falas legitimadas e os silêncios consentidos nas relações entre meninas e meninos em uma turma..
RESULTADO DE INVESTIGACIÓN: Tesis de especialización: “El habla legitimada y los silencios consentidos en las relaciones entre niños y niñas en una clase de preescolar: ¿quién puede decir qué?” -Especialización en Educación Infantil, Universidad Federal de Pelotas UFPEL, Pelotas, Brasil
Introdução*
Este trabalho é um recorte de uma pesquisa realizada por mim para a escrita do artigo de conclusão da Especialização em Educação Infantil da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas. Com o estudo inicial busquei entender e refletir sobre as relações de gênero em uma turma de Educação Infantil e compreender até que ponto as noções de masculinidade e feminilidade já estão construídas em crianças de cinco e seis anos. Para tanto, usando como método a observação participante, estive junto a uma turma de pré-escola[1] durante dois meses, um dia por semana, do início ao final da aula. Foram oito observações, nas quais estive na sala de aula como se fizesse parte daquele ambiente; já conhecia a professora titular da turma e chegar às crianças não foi difícil; sempre se mostraram receptivas. Estive junto à turma, participando como se eu fizesse parte do ambiente.
Durante esse período, o que busquei observar foi: o que têm a nos dizer as palavras e ações das crianças? Como brincam meninas e meninos? Quais são as brincadeiras? Quais são suas cores preferidas? O que afasta e o que aproxima meninos e meninas nesta turma? O que as crianças falam enquanto brincam? Como o contexto da sala de aula influencia estas crianças? Que tarefas são consideradas “de menino” ou “de menina?” Todas essas questões, como se relacionam à construção de gênero e o que dizem sobre as relações de gênero nesta turma? Pensando em responder a esas questões, tendo como foco um único grupo de alunos – de pré-escolar – em uma única escola, caracterizei esse estudo como um estudo de caso, sendo que a área do trabalho é delimitada e considerando que esses estudos incidem sobre uma organização específica, por um tempo determinado, relatando o seu desenvolvimento (BOGDAN; BIKLEN, 1994).
Neste artigo, exponho a parte da pesquisa na qual me detive aos pronunciamentos orais das crianças; o que falavam durante as atividades escritas (desenhos, pinturas, etc), o que diziam na hora das brincadeiras e como respondiam quando eram convidados/as a falar, como na hora da roda[2], por exemplo. Também analiso e busco refletir sobre as relações entre meninas e meninos em seus diálogos e falas; quem fala sobre o que e quem silencia; quem são as crianças que se sentem mais aptas e seguras para expressarem-se oralmente, tendo como foco as relações de gênero.
Relações de gênero, infância e escola
Somente há algumas décadas, as crianças começaram a ser ouvidas e as pesquisas começaram a ser feitas com crianças e não mais sobre crianças. Um dos principais motivos de deixar as crianças à margem, além de, por vezes, considerá-las um grupo inferior, é o medo da instabilidade que têm (temos nós,) os/as pesquisadores/as. (DELGADO; MÜLLER, 2005). O modelo de nossa sociedade, baseado em uma moral racional e que exclui as emoções, reafirma que não estamos “treinados” para lidar com a instabilidade. As crianças representam para nós, adultos, a instabilidade. Por vezes, esquecemos ou não percebemos que “o caráter inacabado da vida dos adultos é tão evidente quanto o das crianças.” (DELGADO; MÜLLER, 2005, p. 352).
Da mesma forma, como são recentes os estudos sobre infância, considerando-se a perspectiva das crianças, assim também o são os estudos sobre gênero e relações de gênero. Ambos os estudos – sociologia da infância e gênero – são campos novos e em desenvolvimento. Hoje se tenta “dar voz” às “minorias”, busca-se outras vozes permitidas.
[1] Esta pesquisa foi realizada em uma turma de pré-escola, de uma escola pública de Pelotas, RS. A turma era composta de 19 alunos; 13 meninos e 06 meninas, todos/as com idades entre cinco e seis anos.
[2] 3Hora em que as crianças sentam-se em círculo para ouvir uma história, conversar sobre a história ouvida, contar novidades, entre outras coisas.