CORPOS DESUBJETIVADOS: VANESSA BEECROFT, PERFORMANCE E CORPO SOB A PERSPECTIVA DE ...
Neste artigo proponho-me, a partir de alguns dos conceitos trazidos por Richard Schechner (2003) e David Le Breton (2007) acerca de performance e corpo,respectivamente, tecer alguns apontamentos a respeito das obras/performances da artista visual Vanessa Beecroft e assim analisar a ausência ou repetição de elementos vestimentares em suas propostas. Inicialmente considero de suma importância esclarecer alguns pontos que se referem à escolha de tais obras, tendo em vista que partiremos de determinadas suposições baseadas em meu olhar subjetivo acerca das mesmas, bem como de alguns conceitos instrumentais que auxiliarão em sua análise e poderão ter ressonâncias no decorrer de todo o trabalho.
Compleição e ausência
Com o intuito de abordar as considerações inicialmente propostas, optei pela análise geral do conjunto de performances produzido por Vanessa Beecroft, as quaisestão exemplificadas pelas Figuras 01 e 02 a seguir, e não por uma ou outra obra em particular. Assim, delineando características comuns a todos seus trabalhos cabíveis às discussões aqui propostas, podemos observar que corpos femininos, nus, são dispostos em um espaço arquitetônico de modo extremamente semelhante ou até sistemático.
Postos como objetos, enfileirados ou o que aqui eu chamo de desubjetivados, nu sou utilizando como vestimenta elementos que (assim como os corpos) repetem-seigualmente3, trazem ao olhar do espectador a impressão de que se tratam de mulheres feitas em série e organizadas numa espécie de vitrina.Tal vestimenta nesse caso é, do mesmo modo que as modelos/performers, destituída de uma de suas principais funções, a qual seria diferenciar os sujeitos que asutilizam e que se reconhecem no sentido de que pouco importa se as mesmas estão ounão vestidas, apresentando-se, pelo menos a nossos olhos, muito semelhantes senão iguais.
Parto assim da idéia de roupa/veste enquanto território particular, pessoal, que na medida em que é vestido ou incorporado4 revela ou indica contornos (tênues) do que poderia ser pensado como uma determinada subjetividade, a qual se apresenta enquanto imagem, criando assim um processo de alteridade no ato de seu enfrentamento. O que não ocorre, ou ainda é subvertido no trabalho de Beecroft, do ponto de vista da relação existente entre as performers que atuam na obra, ou do reconhecimento nulo entre as mesmas, pelo fato de estarem igualadas, ou ainda desubjetivadas.