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Corpos e Corporeidade no Universo da Nova Era no Brasil


Resumo


O presente trabalho busca explorar a dimensão corpórea en quanto central para a compreensão do fenômeno religioso, em especial do universo Nova Era – NE, em nossa interpretação o corpo apresenta-se enquanto estrutura estruturada estruturante que possibilita aos sujeitos vivenciar e interpretar o mundo, neste sentido, a experiência de imersão e de vivência das práticas da NE são, essencialmente, experiências corpóreas. No decorrer deste trabalho buscaremos dar desta-que aos aspectos singulares da NE brasileira, em especial no que tange à dimensão do êxtase sa-grado, principalmente a partir do diálogo com as religiões afro-brasileiras.


Palavras chaves: nova era; corpo; novas espiritualidades; habitus; êxtase religioso


Abstract


This study aims to explore the bodily dimension as central to the understanding of religious phe-nomena, especially the New Age universe - NE, in our interpretation of the body presents itself as a structure structured structuring that enables individuals to experience and interpret the world, this sense, the experience immersion and living practices of NE are essentially bodily experience. In this work we will seek to highlight the unique aspects of NE Brazil, especially in regard to the sacred dimension of ecstasy, mostly from the dialogue with the african-Brazilian religions.


Keywords: new age; body, new spiritualities; habitus; religious ecstasy



Nova Nova Era, New Age, Neo-esoterismo, Nebulosamístico-esotérica...


Tratar da temática envolvendo o fenômeno da Nova Era –NE– é entrar numa discussão em que há pouco consenso entre os pesquisadores, o que se deve, em grande medida, à própria heterogeneidade que a denominação abarca, aliás, esta nomeclatura apesar de ser utilizada amplamente entre acadêmicos e adeptos não chega a ser unanimidade entre os que desenvolvem uma reflexão sistemática em torno deste fenômeno. Os mais diversos termos têm sido utilizados para designar o movimento, alguns como: campo religioso ampliado (Mallimaci, 1997), religião difusa (Parker, 1997), religiosidade ou identidade religiosa flexível-flutuante (Hervieu-Léger, 1993), nebulosa místico-esotérica e crédulos difusos (Champion, 1990), religiosidade inorgânica (Hugarte, 1997), nebulosa polivalente da Nova Era, diversidade de identidades, diversidade nas formas de adesão (Sanchis, 1997), querela dos espíritos (Carvalho. 1999), orientalização do ocidente (Campbell, 1977), Nueba BobEra (Feriggla, 2000), e em trabalhos anteriores, para nos referirmos ao fenômeno vivenciado no Brasil, temos nos utilizado da expressão New Age Popular (Oliveira, 2008, 2009, 2010, 2011a, 2011b). Para Siqueira (2003):


New Age poderia ser caracterizado como um conglomerado de tendências que não teria textos sagrados, dogmas, líderes estritos, nem se caracterizaria como uma organização fechada. Tratar-se-ia mais de uma sensibilidade espiritual do que de um movimento espiritual estruturado. Expressaria desejo de harmonia, busca de melhor integração do pessoal e do privado com o ecológico e com o cósmico, partindo-se da presença do divino em tudo e em todos os processos evolutivos. (Siqueira, 2003: 26).


A definição posta pela autora nos coloca diante de uma problematização mais ampla, destacando o fato de que uma realidade tão plural dificulta a própria possibilidade de denominá-la enquanto movimento, ao menos como os movimentos têm sido pensados na literatura clássica das ciências sociais –inserindo-os dentro das ações coletivas– até mesmo porque, seu universo é tão amplo que abarca práticas e vivências que se distanciam do que é posto nesta definição, pois na Nova Era também há sociedades iniciáticas, que criam textos sagrados, dogmas, líderes estritos, bem como se colocam como uma organização fechada.


Contudo, parece haver um relativo consenso entre os pesquisadores a ideia de que a Nova Era começa a ganhar seus primeiros contornos ainda no final do século XIX, através do reavivamento das “novas gnoses” (Mello, 2004), que se marca pela articulação do discurso oriental e ocidental, este, marcado pela influência do esoterismo1, e do ocultismo europeu. Devemos acrescer, a esta formulação, a influência do transcendendentalismo americano2 do século XIX, e da teosofia3, desenvolvida por Helena Blavastsky, Henry S. Olcott e Annie Besant.


Com o advento do movimento de contracultura4 e o consequente aumento do fluxo entre Oriente e Ocidente, com a “invasão dos gurus” no mundo ocidental, juntamente com suas filosofias orientais, ou de inspiração oriental, o movimento toma feições mais claras, que se delineiam ainda mais com a infiltração dos discursos de caráter científicos (ou pseudocientífico como colocam alguns), tendo como um dos marcos, a publicação de O Tao da Física (1974), de Fritjof Capra.Estamos lidando, portanto, com a uma miríade de discursos, práticas e arranjos socioculturais, que abarca uma infinidade de realidades, tanto religiosas como não religiosas, mas cuja inspiração leva a uma vivência caleidoscópica (Amaral, 1999).Nossa pesquisa de campo teve como substrato principal as práticas desenvolvidas num movimento denominado Vale do Amanhecer – VDA, que agrega tanto elementos vinculados à NE, quanto outros oriundos nas religiosidades populares, o que demarca uma característica distintiva do próprio movimento NE, que articula os mais diversos elementos simbólicos, utilizando-os performaticamente, alguns autores têm buscado apreender tal articulação através de categorias como Sincretismo em Movimento (Amaral, 1999) ou Sincretismo Deslizante (Oliveira, 2010), além de uma ampla revisão da temática do fenômeno NE no Brasil.5



NOTAS:


1 Alguns autores têm posto a distinção entre este esoterismo europeu e aquele vivenciado no século XX, Magnani o faz através o acréscimo do prefixo neo, compreendendo que há neste momento a formulação de uma nova forma de esoterismo, ao passo que Boas (1994) busca diferenciar o esotérico do exotérico, segundo o autor no campo de estudo das religiões o esotérico tem se referido, majoritariamente, aos ritos e elementos doutrinários reservados aos membros admitidos a um centro mais restrito, ao passo que, exotérico tem se remetido à parte pública do cerimonial.

2 O transcendentalismo refere-se a um grupo de novas ideias, surgidas na Nova Inglaterra, em meados do século XIX, que prega a existência de um estado espiritual que “transcende” do físico e o empírico.

3 Remete a uma série de conhecimentos, que visa integrar religião, filosofia e ciência. É definida por Helena Blavatsky como o conhecimento divino, ou a ciência divina. Traz elementos orientais, para buscar a realização de uma “religião universal”. Foi amplamente divulgada pela obra de Blavatsky através de livros como Ísis sem Véu (1877) e A Doutrina Secreta (1888).

4 Contracultura é um movimento, relativamente difuso, que teve seu auge nos anos 60, do século XX, tinha como principal base de sustentação, a contestação dos valores sociais de sua época, seu principal bojo, em termos de emergência e de desdobramentos, é nos Estados Unidos, ganhando uma especial visibilidade ante a Guerra do Vietnã.

5 Este origina-se a partir das reflexões desenvolvidas na Tese de Doutorado intitulada Entre Caboclos, Preto-velhos e Cores: a imersão dos sujeitos no universo místico-religioso do Vale do Amanhecer, defendida no ano de 2011 junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia, da Universidade Federal de Pernambuco, Brasil, sob a orientação do professor Roberto Motta.6Vários autores tem destacar o caráter efêmero das práticas de Nova Era, denominando que elas formam “comunidades sem essência” (Amaral, 2000), ou mesmo que, para os praticantes mais importa a pluralidade de experiências que sua profundidade (Bittencourt Filho, 2003). Partindo de outro ponto de vista, centramos nossa análise nas práticas existentes no universo NE cuja centralidade se dá através da profundidade das experiências vivenciadas, como no caso do Vale do Amanhecer, Santo Daime, União do Vegetal, Umbanda Esotérica etc., que possuem, inclusive, um caráter iniciático.




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